O Rap como escudo pras batalhas da vida

 

canetabeats

Por Júlio César da Costa

Essa entrevista poderia se desdobrar em muitas outras. Assunto não falta pra conversar com o Canetabeats. Rap, Terreirão, Roda Cultural…mas o que interessa aqui é conhecer um pouco mais esses dois camaradas muito guerreiros e extremamente talentosos, moradores do Terreirão, que vêm fazendo um trabalho de qualidade através do Canetabeats. Batemos um papo com Peu e Btt sobre o começo dessa carreira promissora, os desafios, frustrações e a satisfação de lançar um trabalho feito com muita dedicação e suor nessa luta contínua do Rap. Dá um confere.

Blog da Onda | Falam um pouco do grupo, como e quando surgiu o Canetabeats…

 Canetabeats | Canetabeats surgiu no início de 2011, naquela época era só um grupo de amigos fazendo rima por gostar. Peu, Btt, Berg, e Dan….logo depois Berg e Dan pararam e hoje Canetabeats é o Peu e Btt.

 

Blog da Onda | E como surgiu o interesse de fazer rimas?

Canetabeats | Diferentes motivos, quando Peu teve a ideia de criar o grupo, Btt já fazia Rap e tinha umas duas ou três músicas escritas. O interesse do Peu, que já ouvia Rap desde os 7, 8 anos, veio por meio das batalhas de mc’s.

 

Blog da Onda | Tanto o Peu quanto BTT batalhavam?

Canetabeats | Não. Desde o início do grupo só o Peu foi MC de batalha.

 

Blog da Onda | Vocês sempre moraram no Terreirão? Como surgiu essa amizade de vocês?

Canetabeats | Btt veio pra cá pouco tempo depois de nascido, já o Peu é nascido e criado aqui sim. A amizade veio por meio do convívio do Btt com os tios do Peu, que na época tinham uns 17, 18 anos, e Btt tinha seus 12 ou 14, e Peu entre 9 e 10 anos.  Andávamos o tempo todo com os tios do Peu, então automaticamente sempre teve amizade e respeito entre nós. Inclusive Btt foi um dos primeiros (se não o primeiro) da nossa área a ouvir Rap, ele que chegava com os cds do tupac, racionais, mv bill entre outros, e emprestava pros tios do Peu ouvir, e por meio disso o próprio Peu foi ouvindo também.

 

Blog da Onda | Como as batalhas influenciam na formação musical da pessoa?

Canetabeats | Isso é relativo. Levando em conta que a maioria das batalhas que existem é Batalha de sangue, cada um absorve como bem entende. No caso do Peu a batalha ajudou a perder a vergonha de tá ali na frente do público, ele ficou com mais disposição de botar a cara em qualquer lugar se sentindo em casa, e aprendeu a respeitar o espaço de cada um, inclusive do “oponente” no caso das batalhas. Acreditamos que se a maioria das batalhas fossem de conhecimento como a que o mc marechal criou e organiza, formaríamos mais mcs vitoriosos, com bons fundamentos fincados nas raízes e menos mcs que só agridem o próximo dentro e fora do rap.

 

Blog da Onda | Então acreditam q a batalha contribui mais pra atitude musical que a formação em si? Atitude no sentido de perder a vergonha, encarar o público etc…

Canetabeats | Depende.. se for batalha de sangue, acreditamos que só ajuda o mc  perder a vergonha e ganhar nome no meio das batalhas. Caso seja batalha de conhecimento, acreditamos que contribui sim pra formação pessoal na mesma proporção que as lições aprendidas em casa e na rua.

 

Blog da Onda | Quanto mais o MC melhorar o seu vocabulário melhor rimas faz…mas essa busca não deveria ser independente da batalha ser de sangue ou temática?

Canetabeats | Voltamos a resposta anterior, cada um absorve como bem entende. Sempre preferimos batalhas de sangue, apesar de admirar as batalhas de temas. Porém, no caso do Peu, que batalhava, ele já tinha sua formação pessoal e ideológica bem estruturada, então eu só precisava perder a vergonha, e se enturmar com a rapaziada que tava no mesmo corre que nós.

 

Blog da Onda | As batalhas podem ser vistas como um degrau na carreira do MC? E como ocorre essa transição das batalhas para uma carreira musical?

Canetabeats | Sim…com certeza podem ser vistas assim. É super importante um mc iniciar nas batalhas. Sobre a transição, o Peu parou de batalhar porque tava ficando muito fominha de batalha, a ponto de querer tá em todo tipo de batalha e deixar os trabalhos do grupo em segundo plano. Até que se deu conta disso e começou a parar de batalhar por achar que já tava no momento de dar uma direção aos trabalhos do Canetabeats.

 

Blog da Onda | Batalhas viciam?

Canetabeats | Qualquer parada nesse mundo vicia quando você se sente bem fazendo aquilo. Com a batalha não é nada diferente.

 

Blog da Onda | Como é o processo de produção das suas músicas?

Canetabeats | Depende muito do momento. Têm músicas que saem as letras primeiro, depois os beats. Há outras que saem os beats primeiro, depois a letras. E têm aquelas que saem os dois juntos. Depois é estudar o conteúdo pra ver se não tem nada que possa ser feito melhor, cair pro estúdio, gravar,  e aguardar o Suarez mixar e masterizar o que foi capturado.

 

Blog da Onda | Quanto custa em média pra gravar uma música, da compra do beat até a gravação, mixagem e masterização?

Canetabeats | 100, 200 ou 300 reais cada beat…170 captação, mixagem e masterização (No Qg do Suarez)…entre 270 e 470 por faixa dependendo do estúdio que você tá trabalhando as músicas.

 

Blog da Onda | Quais as influências musicais do Canetabeats dentro e fora do rap?

Canetabeats | Fora do rap: Oswaldo Montenegro, Di melo, Milton Nascimento, Bezerra da Silva, Adele, SOAD,  O Rappa, chimarruts, entre outros mil… Dentro do rap é impossível falar muitos, até porque é muita coisa…Mas vou falar de quem tem sido influência atual, Síntese, Rashid, Shawlin, Marechal, Mv Bill, Eduardo Ex Facção Central, Emicida, Flora Matos, Sabotage e etc etc…

 

Blog da Onda | Vocês acabaram de lançar a mixtape “Você está sendo manipulado”. Fala um pouco desse projeto musical e a expectativa de vocês…

Canetabeats | A mixtape “Você está sendo manipulado” é, antes de tudo, um grito libertador. É aquela última gota de paciência, é a ênfase à insatisfação e revolta com toda injustiça que ocorre vindo de quem tem “TUDO ($)” contra quem não tem “NADA”, inclusive conhecimento sobre seus próprios direitos que é o mínimo que cada um de nós deveria ter. Apesar da evidência na mixtape ser os ataques contra o poder público, a mix é bem diversificada. Na metade da mixtape demos um determinado espaço pra falar da importância da união dentro do R.A.P. na faixa “Mais União”, da necessidade do amor na faixa “Nós 2 somos 1” e do quanto amamos nossa origem carioca, na faixa “Cidade Maravilhosa.” Essa mix é o nosso primeiro projeto lançado, estava sendo trabalhada desde o início de 2012, e tem todas as faixas gravadas/mixadas/masterizadas no QG DO SUAREZ. Capa feita por MALDITO KI HAP que também participa da última faixa da mix ‘Sentimentos Mortos’ e todos os lyric vídeos produzidos por GUILHERME TPIRES, que também é o responsável pela produção de todos os videoclipes que temos lançado. Todos os beats produzidos por mim, exceto o 12° que é gringo, e o 16° que conta com a produção de Jeff Beats. Participações: Suarez, Kayuá, Berg, Sobs MargiNaleda, Liink, Júlio PlayOut, Bruno Nadav BN, Jackson Antunes, Rz SPV, Thiago Akill, Flip e Maldito Ki Hap.

 

Blog da Onda | Um trabalho que durou quanto tempo pra ser produzido?

Canetabeats | 3 anos.

 

Blog da Onda | “Mais união menos intriga, o Rap é um só, somos uma família”…o que falta pro Rap ser realmente uma família?

Canetabeats | Falta parar de ver o outro mc/grupo como inimigo. É como falamos nessa própria faixa “Na humildade um passo atrás do outro, não tô pra ser taxado de escroto. Não confunda se valorizar, com desvalorizar os outros. É Rap atacando Rap? ai que tá o problema…”

 

Blog da Onda | Mas se “o valor da união requer confiança”…como construir essa confiança?

Canetabeats | Confiança se constrói dando a cara a tapa, só dá pra saber quem é quem e quais são as intenções convivendo com as pessoas. É como o Btt diz no complemento dessa frase “demonstra vontade (de ter minha confiança) que eu demonstro esperança (de confiar em você).”

 

Blog da Onda | Como é isso “dar a cara a tapa”, como é demonstrar querer a confiança de alguém?

Canetabeats | A partir do momento que você confia em alguém você tá dando a cara à tapa levando em conta que você tá correndo o risco de lidar com um falso que se faz de irmão enquanto precisa de você. Demonstrar querer a confiança é tá ali, sempre no nosso meio, buscando espaço e atenção da gente e de quem tá sempre com a gente.

 

Blog da Onda | Quando vocês falam “que vão morrer buscando a essência”, qual é a essência do Canetabeats?

Canetabeats | A essência do Canetabeats é trazer pra dentro da nossa música questões/fatos/acontecimentos que consideramos de grande importância serem debatidos como “Filhos do Abandono, O coração de uma mulher, Mais União”, combatidos como na “Mensagem Subliminar”  ou simplesmente agradecidos como na “Cidade Maravilhosa e Nós 2 Somos 1”.

 

Blog da Onda | Quando vocês falam que encontraram no rap o amor que buscou nas pessoas significa dizer q desistiram do amor nas pessoas?

Peu | Isso não é nada mais, nada menos que uma frustração pessoal no amor. Refere-se a uma falta de sorte nos relacionamentos e em determinadas amizades as quais dei maior valor e não agiram reciprocamente.  Não significa que eu não ame mais muito menos que não eu não tenha bons amigos. O fato é que pra todo efeito o rap sempre tava ali.. nos momentos de dor, angústia, desespero, p rap tava lá.  Nos momentos que absolutamente ninguém tava ali pra me apoiar, o rap tava.

 

Blog da Onda | O Rap cura feridas e frustrações?

Peu | Falo somente por mim.. curou feridas e frustrações sim. Tem uma frase que se eu não me engano é do 3030 que diz “Hoje o sofrimento virou poesia”

 

Blog da Onda | Se os governos estão pouco se fudendo vendo o povo se matar,  em que direção dar um passo à frente pra mudar?

Canetabeats | Em primeiro lugar pensar mil vezes antes de votar, estudar bastante sobre o candidato escolhido pra ver o que ele já prometeu e o que cumpriu. Isso já é um bom começo, tem muita gente dando votos em troca de uma cesta básica.. entendemos a necessidade, mas esse certamente é um dos motivos que nos condenam a mais 4 anos de sofrimento. Dar uma resposta como uma “verdade absoluta” do que seria a saída pra toda essa corrupção é utopia.  São muitos núcleos, muita coisa envolvida, quando você pensa que sabe muito, vê que não sabe um terço do que tá sendo roubado diariamente, muito peixe grande envolvido. É como falamos na música “Posso ser sincero?” “Estamos todos no inferno, não à solução (enquanto)…Não conhecermos os problemas, o por que, e a dimensão desses problemas.”  Solução pra isso só viria com bilhões gastos de forma muito bem organizada, uma grande vontade politica, com um governante de alto nível no comando.

 

Blog da Onda | A música Cidade Maravilhosa traz um swing bem diferente das demais e uma letra de exaltação à nossa cidade…exceção à regra ou vem mais novidades por aí?

Canetabeats | A Cidade Maravilhosa é a faixa que mostra bastante a cara do Rio, e a gente queria isso também dentro do cd. Não foi exceção não. Estamos querendo experimentar coisas novas dentro do próximo cd e nada impede de ter um novo misto de rap e samba.

 

Blog da Onda | Como vocês vêem a cena do hip hop daqui a 5 anos?

Canetabeats | A única certeza é que mais portas estão se abrindo, consequentemente o hip hop ganha mais espaço.

 

Blog da Onda | Vocês são do coletivo que produz a RCT. Quais os desafios pra fazer uma roda e o que essa experiência ajuda na carreira do grupo?

Canetabeats | Na Roda Cultural Do Terreirão o único desafio é a divulgação. Apesar de lutarmos bastante, é a única parte que pode e deve melhorar. Estrutura, equipe e união acho que hoje a gente tem de sobra. Ajuda no contato direto com a nossa própria comunidade, ver as crianças parando na rua perguntando se no próximo sábado vai ter batalha é uma parada gratificante.

 

Blog da Onda | Como o rap muda a vida das pessoas?

Canetabeats | Isso vai de pessoa pra pessoa… no nosso caso o rap fez enxergar uma nova alternativa de vida, fez ter o pensamento que expomos na faixa “Instrumentos da Rua”… “Nascemos pra ser vencedores na empresa chamada vida Só linha de frente na fábrica da cabeça erguida.”

 

Blog da Onda | Um recado final pra galera…

Canetabeats | É só o começo, a luta é contínua.

 

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