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Rap de guerrilha no Terreirão

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Por Júlio César da Costa

Morador de São João de Meriti, Baixada Fluminense, Marcos Gomes de Campos Junior, de 27 anos, é mais um cidadão do mundo que encontrou no Rap uma missão de vida. Com uma história bastante conturbada, marcada por problemas familiares, falta de grana, violência e até mesmo criminalidade, Marcos, mais conhecido como Soldado do Rap, é um legítimo representante do Rap Gangster. Serviu por 7 anos ao Exército, onde esteve na guerra do Complexo do Alemão e Penha em 2010, e saiu final de 2012 trazendo a patente no nome artístico e a palavra como arma.  Com um estilo de Rap que narra sem rodeios a realidade violenta das periferias e favelas, Soldado do Rap vai se apresentar amanhã na RCT e bateu um papo com o Blog da Onda.

 

Blog da Onda | Como você define o Rap Gangster?

Soldado do Rap | O gângster Rap descreve um certo gênero de  Rap, que tem por características a descrição do dia a dia violento nas periferias, falando sobre a brutalidade da polícia, sobre problemas que afetam as comunidades, os conflitos que acontece no gueto, sobre o tráfico, que é  o comércio mais ativo nas maiores periferias de todo Brasil.

 

Blog da Onda | Quando e como o Rap entrou na sua vida?

Soldado do Rap | O Rap já tava no meu DNA desde pequeno, só não tinha descoberto ainda, eu sempre gostei de músicas que retrata a realidade do nosso cotidiano, eu no quartel sofria repressão, perseguição, e lá não podia falar nada se vc falasse algo contra o sistema, vc era punido e preso então é uma ditadura militar dentro do militarismo. Então eu comecei a escrever e falar o que passava, falava de sargento tenente tudo. Fui perseguido. Foi quando eu decidi sair das forças armadas. Não aguentei a perseguição, a opressão. Foi quando eu vindo pra casa eu vi uma roda de rimas e os moleques fazendo  rimas, mas um ofendendo o outro, aí eu vi e não gostei, por que ali era uma luta sem causa, foi quando eu caí no Rap de verdade, comecei a escrever músicas falando disso é fui evoluindo. Lancei o meu primeiro CD em 2015 foi tudo rápido e já estou com as músicas pronta pro próximo CD ano que vem. A minha mente não para. Por isso que surgiu o nome Soldado do Rap.

 

Blog da Onda | Mas como você se descobriu no Rap, por influência de algum amigo ou roda cultural? Que idade você tinha?

Sodado do Rap | Eu me descobri sozinho. Minha influência era Racionas, 509 e MV Bill. Eu queria escrever já só não sabia que tinha Rap aqui no RJ foi quando eu vi uma roda cultural que tinha aqui perto de casa. Aí eu procurei saber onde tinha as rodas culturas pra cantar. E aonde tinha estúdio pra gravar. Eu tinha 25 anos. As rodas culturas são muito importantes para o crescimento da cultura, e as pessoas terem oportunidade de cantar Rap, mas como eu falei tem que ter uma causa. E as rodas culturas algumas não têm. O que você vê são os caras se atacando um a outro se ofendendo. Sem causa nenhuma. Aí você fala de política ninguém sabe nada, fala de um contexto social ninguém sabe. Eu sou a favor sim de batalha de temas de política e social, aí sim vamos ter uma evolução informativa de conhecimento, aí quero ver que é quem. Não vejo graça em batalha de sangue. Temos que pensar grande pensar em mudanças, no país que vivemos hoje não dá pra ficar mais perdendo tempo nessa. Mas as rodas culturas são muito importantes sim e não podem acabar, só tomar o cuidado com o rumo que elas estão seguindo.

 

Blog da Onda | E como tá a cena do HIP HOP na sua área?

Soldado do Rap | Aqui na baixada o que eu vejo é luta sem causa, dá pra contar nos dedos os que tão pra fazer diferença, é muita gente querendo ser estrela com o ego lá em cima, mas eu respeito a todos, por que minha guerra não é contra nenhum MC e sim contra o sistema, eu sei pelo que to lutando eu sei com quem tenho que lutar.

 

Blog da Onda | Hoje quem inspira o Soldado do Rap nas criações?

Soldado do Rap | Eduardo ex facção, facção central , trilha sonora do gueto.

 

Blog da Onda | Na sua opinião qual a principal razão pro mlk da favela entrar no crime?

Soldado do Rap | A influência conta muito na favela, o espelho é quem está mais perto, como o crime e suas armadilhas pra recrutamento. É o único meio de que você pode ter sem fazer muito esforço.

Blog da Onda | Mas a favela também ñ tem várias histórias de superação que podem ser espelhos?

 Soldado do Rap | O único poder público que entra na favela é a polícia, mandada pelo estado, não tem cultura, lazer, educação de qualidade. Só vemos o estado mandando o seu braço forte na favela, o braço opressor e isso é um ódio pros moradores de favela. É o estado atuando de modo errado. Falta saneamento e sobra miséria, pobreza e famílias desestruturadas. Tudo isso facilita a influência da criminalidade. Drogas e armas são como imã.

Blog da Onda | E as histórias de pessoas que superaram todo esse drama e se mantiveram longe da criminalidade e construíram uma vida digna, isso ñ inspira a favela?

 Soldado do Rap | De 100 uma se salva. Temos que ter superação de todos. Se não for de todos não adianta. A informação tem que chegar pra todos. E o estado impede isso. Aí que vem nós do movimento Rap pra informar essas pessoas de como temos que superar e mostrar para elas quem são os verdadeiros inimigos, mostrar que a mídia é manipuladora, mostrar que o único meio de combater o sistema é a informação pra tomarmos o poder. A favela não tem que atacar outra favela, não vai adiantar de nada você queimar escola, hospital. Tem que atacar o sistema, os políticos, a prefeitura. Aí eles vão ver a favela agindo de um modo político. Temos que ter representante nosso na política lutando por nós do gueto. A união de todas as comunidades em prol de uma revolução. No RJ são mais de 800 favelas. Imagina se todas elas se unirem, fora SP e outros estados. Temos que nos organizar.

Blog da Onda | Esses dias numa entrevista KL Jay falou que o Rap é música e música é livre. Na sua opinião há espaço pra todos os estilos de Rap na cena?

 Soldado do Rap | Sim, há espaço pra todos, cada um faz o seu, eu escuto o que eu me identifico, se você não se identificar com um estilo de música não escuta, eu me identifico com um estilo que fala de revolução, de mudança, fala do gueto, como eu já falei temos divisões demais e nossa luta e contra a opressão, por educação de qualidade, por  saúde, por cultura, por igualdade social, mas se o cara que fazer Rap de amor, maconha, putaria, ostentação, é com ele mesmo. O Rap é livre e democrático, não podemos botar uma ditadura no Rap, mas esses que fala isso não é a minha cara não fazem meu estilo não me representam, mas eu respeito.

Blog da Onda | Quando Sabota fala “Rap é compromisso”, o que você entende?

Soldado do Rap | Pra não viajar nas letras, por que têm manos aí que se deixa levar por falsas aventuras não sabe nem o que estar falando. O Rap é uma arma pra periferia, vários manos chega na quebrada e ver o barato é outro.

 

 Blog da Onda | Suas músicas falam sobre a violência policial nas favelas…se legalizasse as drogas a favela seria um lugar melhor pra se viver?

 Soldado do Rap | Na minha opinião eu acho que não por que o sistema ia criar uma proibição de outros tipos que química e proibir e injetar nas favelas, pra lucrarem, e não é a mentalidade do sistema legalizar as drogas por que é muito lucro, pros playboy, a favela só vai ter paz se ficarmos longe das drogas, longe de todas essas coisas negativa como eu falei mudança começa em cada um de nós aí sim vamos ter um revolução.

Blog da Onda | O que acha que precisa pra cena do HIP HOP crescer no Rio?

 Soldado do Rap | A união de todos sem ego, sem estrelas, sem inveja, todos lutando por um ideal de mudança e evolução. Passando uma mensagem positiva pros manos.

 

Blog da Onda | Ainda sobre as drogas, sabemos que essa guerra só tem perdedores e que essa política de proibição é fracassada. Alguns países têm arrecadado milhões em impostos com a venda da maconha pra investir em saúde e educação. Não seria esse o caminho?

 Soldado do Rap | A guerra não é por causa só das drogas, é guerra de classe social. A elite não quer igualdade do pobre com a classe alta. As drogas não é o motivo da guerra, as drogas é uma armadilha pra impedir a nossa revolução, por que ninguém faz revolução com a mente entorpecida, drogado não pensa em revolução, não tem nem força pra combater uma revolução de igual pra igual contra o sistema, se você não quer problema não quer dor de cabeça, não fuma, não cheira, não bebe, eu nunca fui enquadrado por tá com um pó ou baseado no bolso. Se você não quer problema não dá motivo pro sistema, vamos ficar longe dessa negatividade que também é prejudicial à saúde.

Blog da Onda | Um recado pra galera que vai curtir seu show na RCT.

 Soldado do Rap | Quero mandar um salve pra todas as quebradas do Brasil, e falo mas se queremos uma mudança pra nossa sociedade temos que começar a mudança primeiro dentro de nós mesmos. A informação é a luz que te liberta da escuridão, e não podemos nos entregar à repressão do sistema, temos que lutar por melhores condições de vida. Dentro e fora das prisões não temos permissão pra ler escritos libertários e revolucionários. E falo: igual a mim tem um monte, com a mesma ideologia, sede de justiça. Não vamos parar de atacar com nossas metralhadoras verbas. Só vamos descansar quando tivermos paz, justiça e igualdade pro nosso povo oprimido pelo sistema FDP opressor e manipulador. Aqui estou eu Soldado do Rap, uns dessa linha de frente dessa guerrilha informativa.

 

CD Gangster Favela: https://www.youtube.com/watch?v=EpTf23UUn3E

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