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Rap de atitude

MC OZ 2

Por Júlio César da Costa

 

Diretamente da Rocinha, quem sobe no palco da Praça do Futuro na  estreia da Roda Cultural do Terreirão 2016, que vai rolar amanhã, dia 05, é Luis Rodrigues da Silva, mais conhecido como MC OZ. Com 27 anos de idade e um dos nomes mais respeitados na cena do Rap carioca, OZ  concedeu uma entrevista pro Blog da Onda pra falar da carreira, projetos sociais, sua visão de futuro do Hip Hop e muito mais. Dá um confere.

 

Blog da Onda | Você é cria da Rocinha? Fala um pouco da sua história na comunidade…

 MC OZ | Sou nascido e criado na Rocinha. Comecei a fazer rap por volta de meus 16/17 anos e desde então venho me aprofundado mais e mais na cultura HIP HOP, pesquisando muito pra poder exercer minha função de MC com o máximo de maestria que puder. Tenho vivência muito ativa na favela na parte de cultura desde então buscando levar o rap e a mensagem que eu trago ao máximo  de moradores da comunidade e levar pra fora da favela tb, levando o nome da Rocinha a todo canto que eu piso. Também organizo um evento na comunidade  chamado “Encontro de Ideias e Rimas” e tenho um projeto social que batizei de “Oficina Cultural Pincelando Rimas”.

Blog da Onda | Explica um pouco esses projetos paralelos à carreira do Rap…

 MC OZ | O encontro é baseado nas ideias dos primórdios das rodas de rimas…porém  observei q com tempo os valores se perderam e as rodas de cultura  começaram  ser roda de tráfico  e consumo excessivo de drogas, daí  eu decidi com meu mano M.Souza criar o encontro  pra promover cultura HIP HOP  na comunidade  da Rocinha.  No evento há batalha de bboys,  de mcs, discotecagem,  shows. Já trouxemos nomes como Marechal, RAPadura, Nocivo Shomon,  Ret, Gutierrez, Canetabeats e muito mais….na oficina  eu trabalho especificamente  com crianças e criei o projeto inspirado em outro projeto de um amigo hoje falecido  chamado Tio Lino, o projeto se chama “Troque uma arma por um pincel”, onde ele ensinava as crianças  artes plásticas  e as crianças  só  tinham q está  matriculadas no colégio  e estudando e se tivesse brincando de arma de boboteco  ou qualquer outro tipo de arma nos becos da favela tinha q trocar com ele por um pincel….com essa atitude o saudoso  Tio Lino conseguiu tirar algumas dezenas de jovem talvez de um futuro trágico…já  o meu projeto busca ensinar os primeiros passos do HIP  HOP  as crianças e construir músicas com eles sempre baseado nas coisas que passamos na comunidade.

Blog da Onda | Qual a periodicidade do encontro?

 MC OZ | Estamos parados desde outubro  se não me engano…a ideia inicial é todo mês  rolar…mas nem sempre é  possível…vamos tentar manter um calendário  de 3 em 3 no próximo ano por conta de muito trabalho previsto.

Blog da Onda | Qual o maior desafio pra fazer o encontro que, pelo que entendemos, tem o mesmo formato que uma roda cultural?

MC OZ | Desafio é conseguir recursos. Não conseguimos nada através de governo. O q conseguimos é  através do nosso dinheiro e de alguns comércios do morro.

Blog da Onda | Explica melhor essa parada das rodas perderem a essência da cultura Hip Hop…como você enxerga o papel das rodas?

 MC OZ | Perdeu a essência por não serem fiéis ao que pregam. Os apresentadores de algumas bebendo e fumando em demasia, as vezes incentivando o uso, o comércio  de maconha principalmente  por pessoas ligadas às organizações. Isso não é  HIP  HOP, pelo menos não  o que eu faço  parte. Acho q a partir do momento que pegamos o mic pra nos dirigir às pessoas, já  estamos  sendo exemplos…Vai dá gente ser bom ou mau exemplo. É  a realidade q muito cachorro grande só rap tem medo de escancarar. Todo mundo vê e não  fala q tá errado então  tá  compactuando pra essa porra chegar a esse ponto.

Blog da Onda | E o seu projeto social, como funciona essa interação com as crianças no aprendizado do Hip Hop e o que você percebe de transformação?

MC OZ | O projeto social, primeiro q é algo que eu me vejo na obrigação  de fazer como forma de retribuição à cultura HIP  HOP.  É prazeroso ajudar as crianças a descobrirem  as belezas que o HIP HOP faz e que é. Nada mais nada mesmo que uma terapia do bem, um estilo de vida, uma forma de protesto através da música, linguagem corporal, artes plásticas, e que em sua forma mais pura do seu elemento básico nos instruí a buscar conhecimento sempre. As crianças  adoram  a batida rolando e ver o “tio” fazendo free  e se arriscarem  a fazer. Eu adoro criança  então sou suspeito pra falar. Mas o rosto deles e os olhos brilhando quando percebem que construíram seu primeiro rap mesmo q sejam algumas míseras e simplórias  linhas, não  tem preço.

Blog da Onda | Mas o que efetivamente  consiste a ação social?

MC OZ | Tirar os mlk  da rua e ensinar algo legal a eles e o que de mais legal que eu tenho a oferecer eh o HIP HOP. Então o trabalho funciona da seguinte maneira: eu trabalho com crianças q leem e escrevem de preferências, mas algumas que não são alfabetizadas tb fazem parte por serem muito ativas. Eu primeiro converso com elas sobre algo que tem incomodado, tipo o calor na favela, a falta de luz, não tem água, não tem ventilador nem ar porque falta luz, a praia de São Conrado imunda e imprópria pra banho…mas porque? Porque não há saneamento básico adequado e o esgoto da rocinha todo vai pra praia etc etc…destrincho com eles um tema como este e daí começamos a construir uma música sabe cóe…

Blog da Onda | Porque o rap entrou na sua vida?

MC OZ | O rap entrou na minha pra me estabilizar, pra me fazer um bem e me ajudar a fazer e transmitir o bem pra outras pessoas. Ele entrou na minha vida através de ensinamento e respeito, e se transformou numa doutrina, num modo de vida disciplinar e que eu não consigo viver sem.

Blog da Onda | Quem são suas influências no rap?

MC OZ | Bom, são muitas, nacionais posso citar Ogi, Síntese, Racionais, MV Bill, Criolo, Marechal, Emicida, RAPadura, Gutierrez, Shawlin, Gabriel o Pensador, Pentagono, EZN, Familia Kponne, Nega Gizza e por aí vai..na gringa, Big Pun, Big L, B.I.G., Pac, Rugged Man, Mos Def, Busta Rhymes, Chali2Na, Termanology, Reks, Bone Thugs N-Harmony e por ai vai…

Blog da Onda | Como vc pesquisa pra fazer suas composições?

MC OZ | Pesquiso através de leitura, minha pesquisa se baseia em novas esperiências e novos vocábulos…de resto viver me basta pra escrever minhas músicas.

Blog da Onda | Fala um pouco da experiência do grupo “PensAtivus”…

MC OZ | Então PensAtivus foi ótimo na minha vida, com eles (GolBeats, M.Souza e D’Luanda) vivi alguns dos momentos mais épicos até hoje no rap, como por exemplo rimar no palco do Hutuz. Muito bom trabalhar com um cara estrangeiro e autodidata como o Gol, ótimo produtor, gênio forte como o meu, nos gerou alguns problemas de discussões na época porque ambos éramos muito pilhados em fazer o lance decolar…PensAtivus teve seu fim porque na época estávamos muito sem tempo pra administrar uma carreira que vinha se consolidando de maneira muito interessante mas ao mesmo tempo não nos gerava grana…tivemos que optar entre o sonho ou a realidade, eu e gol continuamos e formamos meu EP “Prus Verdadeiros” meu primeiro lançamento oficial, porém D’Luanda e M’Souza ambos com filhos infelizmente deram tempo com a música….mas pra quem acompanhou e conhece nosso job, estamos com o projeto de relançar as músicas antigas remasterizadas em umas novas esse ano de 2016. Aguardem.

Blog da Onda | Como avalia a importância das batalhas na construção da carreira no rap?

MC OZ | As batalhas são muito importantes porque é o primeiro palco que muitos se transformam em grandes mcs, pode ser um fator desinibidor, porém não acho que seja primordial batalhar ou fazer freestyle pra quem quer ser mc, o principal é o conhecimento do máximo de assuntos que pudermos absorver.

Blog da Onda | Como surgiu a coragem em 2006 pra fazer rap?

MC OZ | Coragem surgiu junto com a escrita, bem antes de começar a cantar já havia coragem e vontade de expor tudo que eu penso. O receio era de não apresentar algo à altura que agradasse quem ouvisse, mas isso é normal, ainda hoje sinto isso. No dia que me achar bom o suficiente pra não ter medo será o dia que realmente vou apresentar algo ruim.

Blog da Onda | Qual o maior ensinamento que o rap te trouxe?

MC OZ | Respeito à vivência de todos, à sapiência de saber distinguir um guerreiro que já viveu e passou muita coisa nessa vida e tá contando tudo isso daquele mentiroso que não tem vivência de nada e num passa de um talentoso contador de história. O rap me ensinou que o conhecimento é a chave pro sucesso, e que sem trabalho não há vitória, sem humildade não há respeito, sem honestidade não há triunfo e que nem todo aquele que bate nas tuas costas te chamando teu irmão quer ver seu bem, e que o rap prega tanto a união, precisa por essa união em prática pra crescer não só como movimento, mas como música mesmo, o lado comercial, saber transformar o underground genuíno em algo que ao menos nos sustente porque não tem condições de continuar a manter um emprego pra sustentar nossa arte.

Blog da Onda | Qual sua visão das UPPs?

MC OZ | É simplesmente um enfeite, que só é existe pra vandalizar com a comunidade, maltratando e amedrontando o morador, tirando a liberdade artística dos eventos das comunidades….enfim num faz nada do que propõe. Aliás polícia pacificadora que não age com nenhuma atitude pacífica.

Blog da Onda | A favor ou contra a redução da maioridade penal?

MC OZ | Contra.

Blog da Onda | A favor ou contra a legalização das drogas?

MC OZ | Da maconha a favor, e a favor da proibição de algumas bebidas alcoolicas.

Blog da Onda | Cidade de 2 extremos, pobreza contra luxúria, a minoria esbanjando todo o miolo…o q falta pro povo da favela reagir?

MC OZ | O que falta pra reação é organização…coragem e atitude temos de sobra, conhecimento pra reagir pode ser adquirido muito facilmente, é só querer e por a mão a obra. Falta mesmo organização pra conseguir mobilizar nossos semelhantes e partir pro arrebento.

Blog da Onda | Qual a importância das rodas culturais?

MC OZ | Então, a importância das que funcionam da maneira que se propõe uma roda cultural, é total pra poder disseminar a cultura HIPHOP da maneira que tem que ser…agora das outras que todo mundo sabe onde ficam e como funcionam mas se omitem pra isso, pode acabar que não faz falta. Só funciona como uma plataforma pra vender cerveja, cachaça e drogas.

Blog da Onda | Pretendemos futuramente abrir uma discussão sobre a criação de uma política pública decente de apoio à cultura Hip Hop…cite duas sugestões q entenda importante pro fortalecimento do Hip Hop carioca.

MC OZ | Incentivo com estrutura e ajuda em espécie para fomentar eventos culturais e projetos sociais que envolvam o HIP HOP. Abertura para artistas do HIP HOP em grandes eventos gratuitos que acontecem na cidade…sempre somos deixados de lados, queremos os mesmos direitos de exercer nosso trabalho para o grande público em grandes eventos patrocinados pelo governo que os do samba, pagode, rock, MPB, sertanjo tem.

Blog da Onda | Fale um pouco sobre seus atuais trabalhos e os futuros pra 2016?

MC OZ | Então, atualmente eu venho trabalhando no EP “Viagem Sonora”, produzido em parceria com o produtor paulista BASE MC BEATS, um dos integrantes de REFUGIAUDIO, e essa parceria nasceu quando no fim de 2014, fui convidado a participar do MANOS E MINAS, nesta viagem reavivei uma antiga amizade com o produtor e ele me convidou pra comparecer em seu estúdio pra produzirmos algo, o resultado foi tão satisfatório para os dois, que nasceram 7 faixas que se transformou no EP. Pra 2016 finalmente sairá da fornalha a MixTape V.I.D.A. (Voluntária e Integral Dedicação a Arte) com os 3 singles que já foram lançados (1º Pra Honrar Par. Nocivo Shomon, 2º Amor ou Ódio Part. LOCOmotiva, 3º Cidade), e o 4º e último single sairá no começo do ano, se chama “Não Preciso de Vocês” Part. Gutierrez e Carline Marques. Fora isso na MixTape ainda há part. do Shawlin, RAPadura em duas tracks, Slow da B.F., KID MC, Macarrão, Rodrigo Nonato, Juh de Paula, Rafinha BRAvoz e outros. Fora isso o C.A.S. (Coletivo Arsenal Sonoro) está de volta na pista, e de tudo correr bem, no primeiro trimestre do ano, sairá nosso primeiro single com videoclipe, o time modificou um pouco, onda da formação antiga só permanecem eu e M.Souza, os novos integrantes se chama: Carline Marques, Aldo ( DoLá), Willans Rapper, Sanna Lopes, Mateus Alves, Diogo Toscano, Marko de Paula e Dj Lyrio. Fora esses tenho um projeto com M.Souza que vamos por em prática chamado IMPACTO e por fim o re-lançamento das antigas músicas dos PensAtivus re-masterizadas e algumas supressas novas. Prometo que em 2016 haverá muito MC OZ pra vocês.

Blog da Onda | Pra fechar…um recado pra galera

MC OZ | Pra fechar peço que me sigam nas minhas redes sociais através de MC OZ ROCINHA E MC OZ OFICIAL na page do facebook, que sigam a page no face do Coletivo Arsenal Sonoro e de todos os artistas do Coletivo. E peço que prestem mais atenção nos artistas de rap da Zona Sul por inteira, pois a Zona Sul não se resume ao bairro do Catete e adjacências. Procurem por todos do C.A.S. Flip MC, Mercado Negro Mc’s, Família Zero Bala, Carta Na Manga, Versu G, AVQNK, Produto  Marginal, Bolt Mc, Guilherme Rimas, Dhamax MC, Sonder, Repper Fiell, Bolt Mc e muitoo mais!!! Então não se conforme só com que lhe é forçado a consumir, procure e tenha o prazer de descobrir que existem muitos artistas muito bons que infelizmente não alcançaram a expansão que merecem mas que tão na luta pra conseguir, e uma curtida, música ou vídeo compartilhado, um cd comprado ajuda demais na caminhada e faz parte da escalada. Obrigado, Rocinha agradece.

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