A rataria do Rap

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Por Júlio César da Costa

Rataria Suburbana é um grupo carioca de Rap formado pelos jovens Murilo e John, ambos com 18 anos de idade. Murilo é cria da Taquara e John de Quintino. Os dois se conheceram na Faetec em 2013 e desde então vêm explorando o universo do Rap com um olhar apurado para as raízes sociais que deram origem à cultura Hip Hop. O grupo vai se apresentar na Roda Cultural do Terreirão #25, que vai rolar no próximo sábado, dia 10. E batemos um papo com essa rapaziada do bem.

Blog da Onda | Fala um pouco sobre a história do grupo..

Rataria Suburbana | A gente se conheceu na Faetec e fazíamos freestyles de rima. Na medida em que nos conhecemos melhor percebemos que tínhamos muitas afinidades de ideias.  Por isso a decisão de criar o grupo de Rap em 2014 surgiu naturalmente, como uma forma de produzirmos conteúdo que despertasse a consciência das pessoas. Afinal o povo sofre muito e a música pode ajudar as pessoas a escolherem os caminhos certos.

 

Blog da Onda | Na Faetec tem muita gente que curte Rap?

Rataria Suburbana | O público de Rap da Faetec é bem grande. Já rolaram duas “batalhas” de conhecimento. Nunca vimos o auditório tão cheio. Isso foi em 2014. Mc Bernard da Pavuna se consagrou campeão em uma das batalhas que o Murilo apresentou.

 

Blog da Onda | Quando e porque vocês começaram a curtir Rap?

Rataria Suburbana | Na real o Murilo desde sempre curtiu. Na infância já gostava mais daqueles funks que os caras não falavam muita besteira e também não tentavam cantar, curtia os que eram falados assim como o Rap. Com uns 5 anos conheceu o som do Mag, que fazia um Rap mais gangster. Desde então passou a ouvir 50 Cent, Snoop Dog e até Notorius, mesmo sem nem ter ideia do que eles falavam. Quando fez uns 10 anos, Murilo entrou numa de estudar a historia do Rap e viu que se encaixava perfeitamente com sua visão de vida. Já o John era baterista de uma banda de rock, mas também ouvia Rap desde 2007, como a Cone Crew na época do ataque lírico.

 

Blog da Onda | O que é um Rap bom pra vocês?

Rataria Suburbana | Rap é ritmo e poesia…um bom Rap é aquele que não fica só falando de erva, dinheiro e essas outras coisas. O Rap de boa qualidade é escrito pondo a alma na ponta da caneta e o coração no caderno, o bom Rap é aquele que faz as pessoas se identificarem e se emocionarem ao ouvir

 

Blog da Onda | Quem vocês se identificam hoje na cena?

Rataria Suburbana | Shawlin, Canetabeats, Haikaiss, Oriente entre outros.

 

Blog da Onda | Qual é o maior desafio hoje pra quem tá começando no Rap?

Rataria Suburbana | O maior desafio é o Rap em si, você pode ter talento, mas se não tiver um Dj e um estúdio é impossível começar. Para fazer Rap igual como fazemos é complicado, tem que ter dinheiro pra gravar, dinheiro pra comprar beat, dinheiro pra se divulgar. O mundo está movido pelo dinheiro e o Rap também. Se tivéssemos um estúdio ou um Dj e chegássemos falando de putaria e drogas, a gente já tinha estourado…infelizmente o povo brasileiro não pensa em cultura e sim em boemia…

 

Blog da Onda | Como mudar essa preferência?

Rataria Suburbana | Conscientizando, porém, é impossível um grupo que ainda tá no underground conscientizar 210 milhões de pessoas, acho que para isso acontecer tinha que ter uma campanha, grupos de diversos estilos de músicas darem o exemplo, assim uma grande parte da população pode absorver melhor a mensagem.

 

Blog da Onda | Quando se autodenomina uma cultura underground o que vem à mente?

Rataria Suburbana | O underground é uma cultura diferente das outras, ser da cultura underground é saber que você tá no inicio, a palavra underground em si quando traduzida significa subterrâneo, temos undergrounds de todos os estilos, mas ser underground mesmo é ser você, não seguir as “modas” que a mídia fica usando para influenciar a população a seu favor, ser underground é ser único.

 

Blog da Onda | Então ser underground é ser autêntico?

Rataria Suburbana | Exatamente.

 

Blog da Onda | A Cone Crew é underground? Como você rotularia?

Rataria Suburbana| Acho que eles hoje são “rap mídia”, a Cone Crew de 2012 para a frente mudou seu estilo para estourar, o que nós vemos no álbum de 2007 (obs: que não estourou) é bem diferente do que vimos de 2012 em diante. O que vimos foi um grupo falar de maconha de todos os jeitos e ficar mega conhecido, não criticando, cada um com o seu cada um.

 

Blog da Onda | Quem se manteve na linha do rap consciente que vocês curtem e hoje faz sucesso?

Rataria Suburbana | Não vemos ninguém que tenha estourado e que se manteve. Mas os que são conhecidos e curtimos são Marechal, Black Alien, Emicida e Haikaiss.

 

Blog da Onda | Além do inegável talento desses nomes, o que mais fez a diferença pra essa turma conquistar seu espaço e respeito?

Rataria Suburbana | Conteúdo, flow, talento, sabem lidar com o público. Acima de tudo são pessoas que conquistaram o respeito no Rap e também na vida. E respeito é a base de tudo.

 

Blog da Onda | O que Sabotage significa pra vocês?

Rataria Suburbana | Sabotage é um ícone do Rap, assim como Racionais. A história dele mexe com qualquer um. Tudo que ele conquistou enquanto era vivo foi muito merecido.

 

Blog da Onda | Sabotage é um cara que transforma revolta em amor….não acha que tá faltando isso no Rap hoje em dia?

Rataria Suburbana | A revolta é necessária mas tem que ser usada da forma certa. Já o amor move nossas vidas. Para quem canta o que o país vive é impossível não se revoltar, mas quem tem motivos para falar sobre amor é sempre bom expor, aliás, se é o amor que nos move então vamos nos movimentar, hahaha…

 

Blog da Onda | Porque Rataria Suburbana?

Rataria Suburbana | O grupo ia ter outro nome, mas não tava a nossa cara. O John então propôs que fosse Rataria Suburbana Crew. Na real não tem um significado em sí, apenas combinava bastante com a gente pelo fato da gente ser considerado “ratos”, que é uma expressão de quem é ágil, de quem é da rua etc… e suburbana para dar a ideia do subúrbio…achamos que o nome ficou bem a nossa cara..

 

Blog da Onda | O que é Hip Hop pra vocês?

Rataria Suburbana | Hip Hop não é só um estilo de música como muitas pessoas acham…Hip Hop é a cultura mais linda que existe, composta por 4 elementos, bboy, dj, mc e grafiteiro. O Hip Hop é vida.

 

Blog da Onda | De que maneira você enxerga a beleza do Hip Hop?

Rataria Suburbana | Como um amante da cultura de rua, a beleza do Hip Hop é muito maior que a do desfile de samba, por exemplo. Cada elemento tem sua beleza diferenciada, o MC com seu raciocínio apurado para “brincar” com as palavras, o Bboy dançando com técnicas parecidas até com a da própria capoeira, o Dj soltando as pedradas ao seu estilo que dá vida às festas e aos eventos, e o Graffiti, que se ninguém passar uma tinta por cima da arte dele vai se eternizar.

 

Blog da Onda | Mas quais são os valores do Hip Hop, qual sentimento que é sua raiz?

Rataria Suburbana | O valor do Hip Hop é trazer cultura,  é mostrar um caminho melhor, é contar histórias de vida. Sobre a raiz do Hip Hop, ela vem das favelas, dos guetos, que é como chamam nos Estados Unidos. Se o Hip Hop não tivesse vindo do gueto  não seria metade do que é hoje, não teria metade da informação que tem. Mas tem algo errado, tem gente que acha que porque as pessoas que começaram a fazer Hip Hop vieram do gueto, todos que fazem ou que querem fazer têm que vim da favela, isso acaba sendo preconceito com quem não vem da favela e quer expandir a arte. O Hip Hop em si é livre, todos podem praticar. Se tem um playboy que mora em um prédio da Barra e quer fazer Rap trazendo conteúdo, porque não podemos deixar? É conteúdo igual a qualquer outro, apenas de fontes diferentes.

Murilo Moura | Eu por exemplo não vim de favela, tudo bem que nunca tive molezinha na minha vida, mas não vim de favela, amo fazer Rap e se alguém chegar falando que eu não posso fazer porque nunca morei dentro de favela eu vou ficar puto, porque o que eu trago não tem endereço de entrega, é para todas as classes sociais, para todas as residências, para todos os seres humanos, acho que se os sons não têm endereço de entrega, também não devia haver preconceito de onde ele será enviado.

 

Blog da Onda | E esse preconceito existe escancarado?

Murilo Moura | Se existe?! Existe o tempo todo, muita gente já chegou me perguntando com cara de nojo o que eu vivi….acho que a minha história teve pontos positivos e negativos, digamos que eu nunca passei dificuldade e nunca tive molezinha, idaí? Por isso eu não vou tentar mudar a mente da população para melhor? Por isso eu não posso escrever uma letra revolucionária encima de um beat?

Rataria Suburbana | Da mesma forma que é errado o preconceito contra gays, negros, brancos, lésbicas etc… é errado esse tipo de preconceito com estilos e afazeres, se temos o poder de ir e vir por que não podemos usar do jeito que quisermos?

 

Blog da Onda | Se queremos o Rap forte não é dividindo….afinal o Hip Hop surgiu como uma bandeira de amor e paz….congregação, certo?

Rataria Suburbana | Correto, não adianta dividir, temos que somar, até multiplicar, mas se dividir só vai deixar a gente cada vez mais longe de revolucionar a nossa era.

 

Blog da Onda | Duas coisas positivas e negativas da Roda do Terreirão…pra melhorarmos sempre

Rataria Suburbana | Positivo: 1 – a organização; a roda é muito bem organizada e isso a diferencia de outras rodas de uma boa forma; 2 – a roda cultural do terreirão é a ÚNICA que tem o Hip Hop completo sendo executado nela – Mcs, Bboys, Grafiteiros e Dj. Negativos: o público se dispersa nos shows dos grupos que vão mostrar trabalho e a demora para iniciar as batalhas, embora saibamos que depende de fechar todos os nomes para começar.

 

Blog da Onda | A questão do público dispersar nos shows, é só no Terreirão ou vocês acham q rola isso nas outras também?

Rataria Suburbana | Isso rola em quase todas, a única que tem um público que fica ali na hora dos shows (nada tão extenso também, cerca de 50%apenas) é a roda cultural do Méier.

 

Blog da Onda | E porque vocês acham que isso acontece?

Rataria Suburbana | Porque muitos do shows não são bem programados, e acabam ficando entediados, daí surgiu o costume de dispersar para conversar e deixar o show apenas como uma música ambiente. Para o público acostumar com os shows, talvez poderia haver cadeiras mais perto do palco, assim pelo menos as pessoas sentariam ali perto e acabariam sendo induzidos a assistir o show, e com certeza ia despertar o interesse de muitos.

 

Blog da Onda | Um sonho?

Rataria Suburbana | Conseguir viver do Rap e mudar o país.

 

Blog da Onda | Pra gente fechar, um recado pra galera…

Rataria Suburbana | Rapeize, cola na grade dia 10, RS Crew tá na casa, bora fazer um show pesado para vocês e vai rolar um som surpresa, inédito até agora!

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